O Topo da Carreira: Gestão Estratégica de Empresas Aeronáuticas. Por Regers Vidor(Air Talent)

O Topo da Carreira: Gestão Estratégica de Empresas Aeronáuticas. Por Regers Vidor(Air Talent)

Muitas pessoas almejam cargos de liderança na carreira em aviação, e iniciam em uma carreira e depois migram para outra.

Durante a evolução de sua carreira, você terá dois caminhos para crescer, considerando-se uma abordagem de carreira “Y”. Ou você se tornará um especialista na sua área de conhecimento, ou assumirá mais cedo ou mais tarde um cargo de gestão na empresa que trabalha ou em outro empreendimento.

Vamos falar aqui sobre o segundo caso. Quando você se torna um administrador, passa a ter outras responsabilidades além daquela que te trouxe até aqui, ou seja, além de ser reconhecidamente um especialista na sua área técnica, você terá que administrar pessoas, processos, orçamentos, projetos e por aí vai.

Isso pode acontecer a qualquer profissional, seja um piloto, engenheiro, técnico, administrador (incluindo ciências aeronáuticas), advogado, comissário de voo, controlador. Conheço exemplos na aviação brasileira de todos os profissionais citados aqui.

Invariavelmente, vi diversas vezes, na minha carreira, profissionais que se destacaram em suas especialidades receberem mais atribuições. Chegaram ao ponto de serem chamados para administrar seus setores e daí começa a vida de gestor: reuniões, relatórios de desempenho, metas corporativas, projetos (expansão e redução), responsabilidade sobre custos e aumento de performance. Nesta linha, alguns chegaram também a cargos de direção.

Muitas pessoas almejam cargos de liderança na carreira em aviação, e iniciam em uma carreira e depois migram para outra. Explico: já vi, por exemplo, comissários de voo iniciarem a carreira na aviação comercial e depois migrarem para a pilotagem de aeronaves. Vi engenheiros se especializando em operações e tornaram-se aviadores. Vi aviadores chegando no topo de suas funções como Piloto chefe, Chefe de Equipamento e daí assumirem a gerência de operações das empresas. Em todos os casos foi fundamental a eles desenvolverem habilidades comportamentais que iam além de suas formações acadêmicas originais.

Mas o que torna a pessoa elegível para se tornar um gestor? Se você é aviador, advogado, engenheiro, técnico, administrador e está se planejando para ascender na carreira e conquistar um cargo de gestão, ou caso já esteja desempenhando esse tipo de função, saiba que as formações técnicas, conhecidas como “hard skills” são uma espécie de “commodity” nessa fase, ou seja, todos que estão administrando empresas e setores na aviação já possuem conhecimento técnico que os consagrou e trouxe a um cargo de liderança. Desta forma, é importante que você desenvolva ou se aprimore nas chamadas “soft skills” que são habilidades comportamentais que desenvolvemos ao longo de nossa existência.

Quais dessas habilidades são importantes para um gestor? Dentre algumas, destaco: Comprometimento, senso de liderança, empreendedorismo, negociação, habilidade de comunicação, auto confiança e resiliência. Uma combinação dessas habilidades, adicionadas a outras inatas de cada pessoa, serão essenciais para que você tenha sucesso numa carreira corporativa no mercado de aviação.

Apresento a seguir algumas áreas de gestão em empresas aéreas que se enquadram nas especificações ditas acima:

Gestão de frota – Gestores do CCO (Centro de controle Operacional) têm a missão de administrar a frota de aeronaves para o dia seguinte, a semana seguinte, o mês seguinte, o ano seguinte e, em alguns casos, os próximos 3 a 5 anos seguintes. Eles desenvolvem as tripulações, planejam a operação segundo contratos (táxi aéreo Offshore) ou malha aérea (Linhas aéreas) e se adequam para quaisquer tipos de contingências, sejam elas de mercado ou internas;

Gestão de malha e demanda de voos – Gestores de Revenue Management e Network Planning (em maior número nas linhas aéreas e em casos específicos em Táxi aéreo) são os responsáveis por entender em quais nichos de cidades está a demanda por voos que se enquadram no perfil de operação da frota da empresa e assim traçar a malha que seja economicamente viável para a empresa, mas que também atenda aos interesses dos clientes. Da mesma forma, devem se atentar ao preço praticado pelos concorrentes para que não cobrem muito barato o “ticket” tendo prejuízo, e nem o vendam tão caro que fique impraticável. Lembre-se que o produto Transporte Aéreo, ou seja, assentos de linha aérea, são perecíveis. Quando a aeronave fecha as portas para decolagem, as passagens não vendidas perecem. Sendo assim, esse setor se comunica frequentemente com a área comercial e marketing para gerar o engajamento de mercado estratégico na empresa.

Gestão técnica – Geralmente designada como Diretoria Técnica, esse setor abrange as áreas técnicas essenciais ao negócio aeronáutico, a saber: engenharia e aeronavegabilidade, manutenção direta nas aeronaves, Controle técnico, Planejamento, Inspetoria, Garantia da Qualidade, gestão de contratos, produção de manutenção, MCC (Maintenance Control Center e Setor de troubleshooting), bases de manutenção, ferramentaria, licenças e treinamento técnico, biblioteca técnica e oficinas.

Gestão de Operações – A Diretoria de Operações é o cliente interno de todas as áreas operacionais pois é ela que toca a operação no dia a dia. São compreendidos os setores de Gerência de Pilotos, Gerência de Equipamentos (leia-se aeronaves), Engenharia de Operações, Regulamentação/ gestão operacional perante a ANAC, Setor de Despachos Operacionais (DOV), Chefia de Pilotos, planejamento de operações, certificações de equipamentos, licenças e treinamentos de tripulantes (pilotos, comissários), biblioteca técnica (incluindo aquela que vai a bordo das aeronaves). Outra atribuição importante que comumente é atribuída a essa Diretoria é a gestão do sistema de Segurança Operacional (SGSO), que cuida da segurança de voo na empresa (Safety).

Gestão de Logística – compreende o setor de Supply Chain incluindo compras aeronáuticas e não aeronáuticas, gerenciamento de estoques na sede e nas bases incluindo RECEX, importação e exportação de aeronaves, componentes e peças aeronáuticos, planejamento de orçamento (custos estimados com substituição de trens de pousos, motores, modificações) para os próximos 3, 6, 12, 36 meses, e almoxarifados.

Gestão de Aeroportos/ Bases de Operações – nunca esquecendo que a parte mais importante para a vida de uma empresa aeronáutica são OS CLIENTES!!! Para cuidar desse ativo tão delicado (que te processa se você perder ou danificar a bagagem dele, se o voo não decolar, se decolar atrasado…) existe uma equipe de profissionais dedicados, liderados por um gestor de aeroportos (linhas Aéreas) ou bases (táxi aéreo) que justamente envidará todos os esforços para manter o cumprimento contratual de transportar os clientes e promover um bom relacionamento com eles durante a prestação dos serviços. As equipes desses setores atuam na gestão do meio ambiente que impacte na operação, segurança do patrimônio da empresa de maneira geral (Security) e segurança dos passageiros no aeroporto (lado Terra e lado Ar). São os responsáveis por prevenir atos de interferência ilícita (tais como: terrorismo, transporte de substâncias ilícitas) conforme exigido pela Regulamentação Aeronáutica.

Administração do negócio – não podemos esquecer, que muitos profissionais rumam para as áreas de apoio à gestão do negócio, sejam elas não técnicas, mas não menos importantes para a vida da empresa. Na verdade, são fundamentais! Nelas enquadram-se os departamentos comercial, marketing, fiscal, Recursos Humanos, financeiro, contábil, jurídico, e apoio administrativo.

Gestão financeira e administração estratégica – Esta é a cereja do bolo! Neste setor estão os dirigentes de empresas, CEO, CFO, os líderes máximos das organizações. Eles recebem a informação de todas as áreas da empresa, sintetizam todos os relatórios com indicadores de desempenho para tomar decisões fundamentais para o desenvolvimento (e muitas vezes sobrevivência) da empresa.

Fonte: www.airtalent.com.br

Sobre o Autor

Regers Vidor é consultor e professor de graduação e pós graduação em áreas técnicas (aeronáutica) e administração de empresas. Engenheiro Mecânico e Aeronáutico (EESC-USP), pós graduado em Administração de empresas (EAESP-FGV e Columbia Business School – NY) com 25 anos de experiência em aviação civil atuando em certificação e gestão de empresas aéreas e oficinas (RBACs 121/135/145). Foi Diretor Técnico/ Gerente Técnico de empresas como TRIP Linhas aéreas, Avianca, AZUL, CHC Helicopters, Omni Aviation, Sideral Linhas aéreas. Foi responsável técnico por mais de 190 grandes aeronaves. Trabalhou com diversos modelos tais como: ATR 42/72, Embraer T-27/ EMB-120/ E-JETS 175/190/195, Boeing 737-300/400/500, Airbus A-318/319/320/330, Fokker 100, CRJ-200, Helicopteros Sikorsky S-76/92A/61, Agusta AW-139/189, Eucocopter H-135/155/225. Já atuou como perito judicial e Árbitro em camaras de arbitragem. Possui formação em mediação e arbitragem internacional pelo TJSP e ICC – International Chamber of Commerce – Paris.

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