Atualmente, três tipos de combustíveis movem as aeronaves da Aviação Geral brasileira: a AVGAS, o Etanol e o QAV.
O tipo de combustível utilizado por uma aeronave é um importante critério de escolha para quem pretende adquirir uma aeronave, já que isto influi diretamente na capacidade de executar as missões pretendidas para a aeronave. Neste sentido, as alternativas devem considerar, além das questões de custo-benefício operacional e de manutenção, também a segurança, a eficiência e, principalmente, a disponibilidade de abastecimento do combustível.
Atualmente, três tipos de combustíveis movem as aeronaves da Aviação Geral brasileira: a AVGAS, o Etanol e o QAV.
A AVGAS 100LL (LOW LEAD) é o combustível disponível no mercado brasileiro para abastecer motores a pistão do ciclo Otto. Apesar de ser um combustível muito poluente, principalmente por conter chumbo tetraetila na sua composição, este ainda é o combustível de mais de 230 mil aeronaves ao redor do mundo!
O Etanol, destilado obtido a partir da cana de açúcar, ganhou importante espaço nos últimos 20 anos, nas operações aeroagrícolas. Este combustível se tornou uma alternativa de ótimo custo-benefício para abastecer motores ciclo Otto convertidos, além de apresentar grande vantagem do ponto de vista ambiental. Todavia, como não existe rede de abastecimento aeroportuário de etanol, o combustível tem utilização restrita às operações nas quais haja um aparato de suporte logístico dedicado, o que é o caso das operações aeroagrícolas.
O QAV é o combustível derivado do petróleo que abastece os motores do ciclo Brayton (motores turbojato / turbofan / turboélice / turboeixo) e, mais recentemente, motores aeronáuticos de ciclo Diesel. O fato de ser menos volátil que a gasolina é uma grande vantagem em termos de segurança no manuseio, já que o ponto de fulgor (inflamação) do QAV está entre 38ºC e 60ºC, enquanto a AVGAS tem ponto de fulgor abaixo de -40°C. O QAV, ou JET A-1, é incolor ou levemente amarelado e é mais viscoso que a AVGAS. Este é o combustível que realmente movimenta a aviação mundial, nos segmentos comercial, cargueira, regional, executiva e parte da aviação geral, sendo portanto, a melhor alternativa sob a ótica da segurança de fornecimento. O QAV era o combustível de aeronaves complexas e caras, que operavam motores de ciclo Brayton (turbina a gás), todavia, a partir dos anos 2000, surgiram alternativas de motores a pistão do ciclo Diesel, alimentados por QAV, que equipam aeronaves menos complexas e mais acessíveis.
Cada vez mais, a migração de GAV para QAV tem se mostrado vantajosa para o mercado de Aviação Geral, não somente pelas vantagens do QAV, mas também pelos crescentes preços e indisponibilidade da GAV. Em uma visão de futuro, aspectos de economia de escala deverão pressionar ainda mais os preços do AVGAS, diminuindo sua viabilidade, e consequentemente, motivando a migração para o combustível economicamente mais vantajoso. Isto poderia, inclusive, impactar negativamente o valor de mercado das aeronaves movidas à AVGAS. Há de se ressaltar que, já nos dias atuais, mesmo podendo custar 3 vezes mais caro que o QAV, a disponibilidade da AVGAS está reduzida, sendo que, em alguns países, ela não é mais comercializada.
No mundo, existem 95 países produtores de JET A-1, sendo o Brasil o 14º maior produtor – 94.000 barris/dia (pré-pandemia), de uma lista liderada pelos Estados Unidos com 1.471.000,00 barris/dia. A produção diária de JET A-1 superava os 3 milhões de barris/dia antes da pandemia de COVID-19.
Já a AVGAS é produzida em cerca de uma dúzia de países e tinha uma produção de aproximadamente 200.000 barris/dia. No Brasil ela foi produzida exclusivamente na Refinaria Presidente Bernardes (RPBC) da Petrobras em Cubatão/SP. Todavia, a produção foi interrompida em 2018 por causa de obras na planta de refino e que, no entanto, estão atrasadas devido da pandemia de coronavírus. A Petrobras só projeta a retomada da produção para final de outubro deste ano. Atualmente, 100% da AVGAS distribuída no país é importada do Golfo do México, de grandes empresas americanas. Dos 100 aeroportos atendidos pela Petrobras, somente 54 possuem abastecimento de AVGAS, e, nenhum deles está entre os principais do país.
Além dos aspectos descritos acima, o Brasil enfrentou desde 2018 problemas de fornecimento de AVGAS, com impactos também no Agronegócio, já que o crescimento deste setor demandou crescente utilização de serviços aeroagrícolas, consequentemente, pressionando os preços do combustível. Recentemente o AVGAS esteve em pauta novamente, em razão de inúmeros relatos de problemas de qualidade do combustível ocorridos a partir do início julho, oriundos de 12 estados, como Rio Grande do Sul, São Paulo e Goiás, sobre danos em selagens e vedações de borracha do sistema de combustível das aeronaves, o que obrigou a ANAC – Agência Nacional de Aviação Civil a emitir um Boletim Especial de Aeronavegabilidade em 9 de julho de 2020 com recomendações de inspeção antes do próximo voo. Atualmente, cerca de 12 mil aviões usam esse combustível para voos de táxi-aéreo, particulares e de instrução no país.
O JET A-1, além de ser mais barato, sua utilização em motores de ciclo Diesel apresenta uma eficiência térmica cerca de 25% maior do que outro motor de mesma potência, operando no ciclo Otto. Isto, na prática, se reflete em menos emissões, maior alcance e autonomia, além das questões do custo operacional.
Segundo a Fortune Business (www.fortunebusinessinsights.com/) o negócio de combustível aeronáutico saltará de US$ 300 bilhões em 2018 para US$ 451 bilhões em 2026, onde 95% será absorvido pela Aviação Comercial/Militar e 5% pela Aviação Geral. Estes números podem sofrer alterações, face aos prejuízos da pandemia, mas fica evidente que teremos um domínio de quase 100% do JET A-1 em 10 anos, no máximo, deixando um pequeno espaço para os biocombustíveis e a AVGAS.
O balanço de 2019 da Associação de Fabricantes da Aviação Geral (General Aviation Manufacturers Association – GAMA) apontou que 90% da produção de aeronaves com motores a pistão foi voltada para o uso de AVGAS, e que, a produção de aeronaves a pistão foi quase três vezes maior que a de motores a turbina.
Isto talvez se explique, inicialmente, pelo fato de aeronaves com motores a pistão movidas à AVGAS terem um custo inicial de aquisição menor, tornando os clássicos monomotores mais atrativos ao consumidor, especialmente, para o voo recreativo. No entanto, também é importante mencionar que, apesar de ser necessário um investimento inicial maior para a compra de uma aeronave movida a JET A-1, os tempos de manutenção e os custos operacionais – inclusive com combustível a médio prazo, podem ser até três vezes menores. Este é um ponto que merece um olhar mais atento, em especial, para quem pretende ter uma aeronave para atividades de empresariais ou usá-la como ferramenta de trabalho.
Com a tendência de declínio da AVGAS, o mercado migrará progressivamente para o QAV, o que já pode ser notado na categoria dos bimotores leves, aonde mais de 50% do mercado de aeronaves novas já é suprida com aeronaves equipadas com motores aeronáuticos do ciclo Diesel, da Diamond. Em linha com esta tendência, a Diamond oferece excelentes alternativas de aeronaves a pistão movidas à QAV. Toda a família Diamond, à exceção do DA20 (2 lugares), correspondendo aos modelos DA40, DA42 (ambos para 4 lugares), DA50RG (5 lugares) e DA62 (7 lugares), são movidos a QAV (JET-A1).
A empresa austríaca Diamond é pioneira no uso de JET A-1 em aeronaves certificadas com motores a pistão, utilizando os motores Austro AE300 (170 hp) e o AE330 (180 hp), de quatro cilindros em linha, equipados com turbo-compressor, que impulsionam a família de aeronaves. Na Europa, o DA42 com motor AE300 pode ser abastecido com Diesel (padrão Europeu) ou com combustível de jato (Jet A, Jet A-1, TS-1, RT, No. 3 Jet Fuel e JP-8). Fabricado pela Austro Engine (empresa do grupo Diamond), os motores AE300 e AE330 utilizam a mesma plataforma do motor Mercedes Benz OM640. Este motores que já ultrapassaram mais de 1 milhão de horas de voo e possuem mais de 1.500 unidades comercializadas no mundo. Os motores da Austro Engine possuem o menor consumo do mercado e a mais alta tecnologia de motores a pistão, funcionando em ciclo Diesel com combustível JET A-1 (QAV).
Venha conhecer um pouco mais das aeronaves Diamond, na Aeromot, a distribuidora exclusiva Diamond no Brasil.
Autor: Leandro Casella
Fonte:AEROMOT
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