Que gerenciar a Segurança Operacional em um aeroporto não é algo fácil, você já consegue imaginar. Ainda mais quando funções que por muitos anos foram restritas ao setor público passam a ser concedidas à iniciativa privada. Onde encontrar profissionais de Segurança Operacional com experiência e habilidade para as futuras concessões dos aeroportos? Esse foi o dilema que as empresas que ganharam as primeiras concessões tiveram lá em 2014. E, em muitas delas, a saída foi procurar no mercado os profissionais que tivessem um perfil engajado e que quisessem fazer parte de algo que seria estruturado. Além, é claro, do aproveitamento de profissionais da gestão anterior.

Em 2016 tive a oportunidade de trabalhar no setor de Segurança Operacional do Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro. Formada em Eletrônica no Ensino Médio Técnico, Graduada em Administração e com MBA em Liderança e Gestão de Pessoas, tinha experiência em planejamento e manutenção eletrônica em todo o aeroporto e fiz parte da ampliação na construção do novo terminal e pátio. O que eu tinha de bagagem para segurança operacional? Absolutamente nada! As únicas vantagens eram já conhecer o sítio e alguns processos e dirigir na área de pátios e pistas.

De qualquer maneira, pela escassez do mercado, a oportunidade me surgiu para que pudesse desenvolver habilidades em uma área ainda não explorada. Ao longo dos 4 anos em que trabalhei lá eu fui formada em SGSO, fique responsável pela criação, revisão e manutenção do Manual de Operações do Aeroporto, fiz mais de 8 cursos (Prevenção de Acidentes, Auditorias, Gestão de Riscos, etc) , Gerenciamento de risco de grandes obras e gestão de mudança e passei por todas as atividades do setor, seja como responsável direto ou como apoio à outra pessoa. Fui auditora especialista e líder em auditorias Internas e Cruzadas e representei a empresa em diversos eventos. Já estava em fase de preparação para liderança. Uma oportunidade única de desenvolvimento e crescimento profissional.

As Concessões posteriores às de 2014 já aproveitaram parte dos profissionais que haviam sido formados e as que virão não farão diferente. No próximo ano com as concessões dos Blocos Sul e Norte, o que eu vejo é o surgimento de uma grande demanda de profissionais habilitados e uma baixa oferta. A seleção para cargos de liderança, provavelmente, será com base nas competências adquiridas por estes profissionais dos outros aeroporto ao longo dos anos. E mesmo assim, é preciso esclarecer, que precisarão treinar pessoas para ocupar funções nesta área até que o mercado fique aquecido de profissionais com essa capacitação e experiência. A Segurança Operacional é viva, acompanha o desenvolvimento das regulamentações, busca por melhoria contínua, precisa inovar em seus processos para garantir resultados e a capacitação deve fazer parte da rotina de um profissional desta área.

Algumas empresas já entenderam essa futura demanda e se prepararam para oferecer cursos e treinamentos voltados para capacitar profissionais em funções específicas para atuar no segmento aeroportuário. Claro que é preciso buscar treinamento com profissionais e instituições que realmente tenham a prática e não somente a teoria e, neste sentido, a Universidade da INFRAERO e o CENIPA se destacam, por motivos óbvios. Uma outra grande empresa a se destacar é a INFRACEA, que faz a gestão de diversos aeroportos regionais do país e já montou sua estrutura para viabilizar treinamentos em diversos segmentos.

Após publicação de um outro artigo sobre Segurança Operacional fui procurada por alguns profissionais que amam aviação e que desejam trabalhar na realidade de um aeroporto, e isso é excelente. Para quem já está nesse segmento e para quem quer entrar é crucial se manter atualizado e buscar conhecimento específico na área. Seja com a leitura dos regulamentos da ANAC e Instruções do Comando da Aeronáutica/DECEA até a busca por uma capacitação específica. De qualquer maneira, as novas concessões precisarão investir nos profissionais e, principalmente, ter um bom planejamento de retenção. Afinal de contas, é um nicho a ser explorado e que tem potencial de crescimento considerável. Sabemos que o atual cenário não está favorável mas, mesmo que lentamente, o setor aéreo irá se aquecer e, mais do que nunca, será necessário ter profissionais experientes e capazes de entregar resultados. Novas empresas estão surgindo e o perfil do turismo está mudando e precisamos ficar atentos e conseguir acompanhar.

NOTA: É importante destacar que foquei no profissional de Segurança Operacional, mas que essa analogia se aplica aos demais cargos específicos na operação de um aeroporto. E também é importante considerar que há outros profissionais da aviação (Cias Aéreas e militares) que possuem conhecimento de Segurança de voo que podem ser desenvolvidos e ampliados para segurança operacional em aeroportos.

Natália Duarte é Especialista em Segurança Operacional, formada em Administração e possui MBA em Liderança e Gestão de Pessoas pela UFRJ. Tem 10 anos de experiência em aeroporto e já atuou em diversos segmentos como manutenção, construção civil e SGSO. Tem 4 anos de experiência em Segurança Operacional, mais de 8 capacitações na área de prevenção, auditorias e instrução e já desenvolveu diversas atividades de gestão de risco e mudanças, uso de drones, auditorias de Segurança Operacional, OPEA (objetos Projetados no Espaço Aéreo), Investigação de ocorrências aeronáuticas, indicadores de desempenho (KPI), entre outros assuntos de relevância para o setor.

Natália Duarte

Administradora -Especialista em Segurança Operacional

n.venzel@gmail.com

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