De acordo com o manual da IATA, são consideradas oito competências principais para os pilotos
Uma das preocupações dos diversos stakeholders da indústria aeronáutica (fabricantes, operadores, centros de treinamento, reguladores, etc.) sempre foi com o treinamento dos pilotos, de forma a capacita-los a trabalhar em um ambiente complexo que exige altos níveis de segurança e eficiência operacional.
Sendo assim, ainda em 2013, a IATA e a ICAO apresentaram seus manuais abordando o treinamento baseado em evidência. São documentos densos, que detalham como as empresas aéreas podem implementar essa abordagem de treinamento para seu quadro de pilotos. Considerando que o EBT é algo complexo e requer conhecimento específico para sua aplicação, é possível perceber alguns pontos que embasaram essa “nova” abordagem de treinamento:
– Considera que as aeronaves e o ambiente operacional dos voos no século 21 é diferente das aeronaves e do ambiente operacional do século passado.
– Enfatiza a importância das habilidades técnicas e não técnicas que os pilotos precisam desenvolver para a pilotagem.
– Muda o foco e a abordagem do treinamento, visando construir habilidades e competências para que o piloto desempenhe suas funções em cenários diversos. A geração antiga de treinamento era um pouco mais limitada em alguns aspectos e a determinadas manobras de voo, induzindo o piloto a pensar que se atingisse determinados requisitos ele estaria apto às suas funções.
– Utiliza dados obtidos de diversas fontes para promover a melhoria contínua do treinamento. Entre as fontes estão informações obtidas de análise de dados de voo (FOQA), estudos de fatores humanos aplicados à aviação, observações reais de voos (modelos TEM/LOSA), relatórios de acidentes, entre outros.
De forma resumida, podemos dizer que esse método de treinamento tem dois grandes objetivos:
1) identificar, desenvolver, e avaliar as competências necessárias para os pilotos operarem de forma segura e eficiente no atual ambiente da aviação comercial. Com essa visão tira-se o foco anterior em atender requisitos de treinamento e passa-se a considerar habilidades e competências necessárias para serem utilizadas em cenários diversos de voo.
2) abordar as ameaças mais relevantes no ambiente operacional, evidenciadas em relatórios de acidentes, incidentes, dados de voo, dados de treinamento, entre outros. Ou seja, como o próprio nome do método sugere, fazer uma abordagem para o treinamento com base nas evidências que a indústria já possui.
De acordo com o manual da IATA, são consideradas oito competências principais para os pilotos, assim resumidas:
1) aplicação de procedimentos: o piloto identifica e aplica procedimentos de acordo com a legislação e a padronização da empresa, demonstrando conhecimento adequado;
2) comunicação: o piloto demonstra comunicação efetiva, de forma escrita, oral, e não verbal, nas situações normais e anormais;
3) gerenciamento do voo automático: o piloto controla a trajetória da aeronave através do automatismo, incluindo o uso do FMS e sistemas de orientação;
4) gerenciamento do voo manual: o piloto controla a trajetória da aeronave através do voo manual, incluindo o FMS e sistemas de orientação;
5) liderança e trabalho em equipe: o piloto demonstra liderança efetiva e sabe trabalhar em equipe;
6) solução de problemas e tomada de decisão: o piloto identifica ameaças, sabe resolver problemas, e usa o processo adequado para tomar decisões;
7) consciência situacional: o piloto percebe e compreende toda a informação relevante disponível e antecipa o que poderá acontecer e afetar sua operação;
8) gerenciamento da carga de trabalho: o piloto gerencia os recursos disponíveis eficientemente, priorizando e realizando tarefas ao longo do tempo de maneira adequada e em todas as circunstâncias.
Observa-se que das oito competências, cinco delas são relacionadas a habilidades não técnicas, estudadas há muito tempo pela área de fatores humanos aplicados à aviação: comunicação, liderança e trabalho em equipe, solução de problemas/tomada de decisão, consciência situacional, e gerenciamento da carga de trabalho.
Fica clara, portanto, a importância do desenvolvimento dessas habilidades para todos que trabalham ou pretendem trabalhar como pilotos em companhias aéreas, uma vez que a utilização dessa abordagem de treinamento já está em curso em grande parte das empresas aéreas ao redor do mundo há alguns anos.
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