É um fenômeno meteorológico que pode ser definido como uma rápida variação na direção e/ou na velocidade do vento ao longo de uma dada distância. Que pode ocorrer em todos os níveis de voo, entretanto, é particularmente perigoso abaixo de 2000ft, nas fases de aproximação, pouso e subida inicial.

OCORRÊNCIA SIPAER

Histórico: A aeronave decolou do Aeródromo da Fazenda Murará, RR (SSJL), por volta das 20h55min (UTC), a fim de realizar um voo de aplicação de ureia em uma área próxima à pista, com um piloto a bordo. Havia formações meteorológicas significantes na área próxima à pista. Ao passar por baixo de uma linha de baixa tensão, a aeronave colidiu a sua asa direita contra um mourão de madeira. Após a colisão, a aeronave tocou o solo desalinhada, quebrando o trem de pouso e vindo a parar em uma depressão (vala), cerca de 100m à frente.

Análise: A decolagem foi realizada pela cabeceira 12 com curva à direita, buscando uma proa direta para a área de aplicação. Há de se considerar, para o evento em questão, os efeitos adversos de um sistema convectivo (chuva forte), que estava afastado cerca de 1km do aeródromo de decolagem. Tais efeitos incluíam a ocorrência de súbitas mudanças no vento, o que poderia afetar negativamente a manutenção do controle da aeronave. O alcance de tais efeitos adversos foi julgado de maneira equivocada, culminando na decisão inadequada da decolagem, ainda sob condições meteorológicas adversas.

Ao realizar a curva de enquadramento para aplicação de ureia, com baixa velocidade e altura reduzida, a aeronave, possivelmente, recebeu uma rajada de vento (cortante de vento) oriunda da formação meteorológica que se encontrava distante cerca de 300m na posição de sete horas em relação a sua trajetória. O aumento súbito da velocidade do vento de cauda, ocasionou a redução da velocidade aerodinâmica da aeronave e teve como consequência a diminuição da sustentação, o que fez com que houvesse perda de altura. Como estava com baixa velocidade, o piloto não conseguiu manter um controle efetivo da aeronave e, nesse caso, seria necessária a utilização da potência do motor para ganhar velocidade e, então, recuperar a altura perdida.

Ao tentar recuperar o controle, o piloto observou que uma linha de baixa tensão (cerca de 10m de altura), a qual se localizava no limite da área de aplicação, se aproximava rapidamente da trajetória de voo, e que não haveria espaço à frente, suficiente, para acelerar a aeronave e superar o obstáculo por cima. Em razão disso, o piloto decidiu passar por baixo da linha de transmissão. No entanto, nessa decisão não foram considerados os parâmetros de envergadura da aeronave, culminando com a colisão do flape direito contra um mourão de madeira, que ocasionou separação desta superfície.

A colisão causou um momento de guinada, que fez com que a aeronave tocasse o solo de maneira brusca, causando a quebra do conjunto da roda direita do trem de pouso principal. Cerca de 100m à frente, a aeronave bateu contra uma vala e parou ao colidir contra uma cerca de arame.

CONSCIÊNCIA SITUACIONAL

De acordo com a Flight Safety Foundation, a consciência situacional e o estado de alerta da tripulação são fatores essenciais para o sucesso da aplicação das técnicas de prevenção e recuperação de uma cortante de vento.

O cisalhamento do vento horizontal e/ou vertical na decolagem resulta em perda repentina da velocidade do ar e/ou redução na razão de subida, o que pode ter consequências potencialmente desastrosas. É vital que tais condições sejam rapidamente reconhecidas, caso sejam encontradas, e que a resposta do piloto seja imediata e correta.

Fontes:

INFORMATIVO SERIPA VII: https://www2.fab.mil.br/seripa7/index.php/informativos-seripa-vii

RELATÓRIO FINAL – CENIPA: http://sistema.cenipa.aer.mil.br/cenipa/paginas/relatorios/rf/pt/PT-FAL_21_06_2017-AC.pdf

LINK WINDSHEAR SKYBRARY – FSF: https://skybrary.aero/bookshelf/books

Sobre Bruno Israel