Adaptação, inovação e sustentabilidade são algumas das chaves para os novos caminhos do setor aéreo
Um dos campos mais gravemente afetados pela pandemia da covid-19, o setor aéreo sofreu perdas gigantescas, e continua sob risco de turbulências significativas. Apesar de ter contado com ajuda pública em algumas regiões, o transporte aeroviário ainda não é capaz de enxergar a saída para a crise atual.
As adversidades geradas pela covid-19 provocaram o maior impacto já experimentado pelo setor, com quedas bruscas de 66% do tráfego em 2020, apontadas pela International Air Transport Association (IATA). O movimento de passageiros recuou para números de 2003, com maior impacto no fluxo internacional (-75,6%) do que em voos domésticos (-48,8%).
Essa situação infligiu às companhias aéreas uma perda de faturamento da ordem de US$ 510 bilhões, o que se traduz num prejuízo líquido de US$ 118 bilhões. A IATA estima que cerca de 40 companhias tenham desaparecido. Numa reação em cadeia, lamentamos o fechamento de postos de trabalho.
Nos terminais aeroportuários, as circunstâncias não são menos preocupantes. A perda de receita dos aeroportos é da grandeza de US$ 111,8 bilhões, segundo levantamento do Airports Council International (ACI).
Fabricantes de aeronaves também foram atingidos. A produção da Airbus caiu cerca de 40%; e a Boeing, que já sofria com os impasses do 737-MAX, viu os prejuízos se multiplicarem. Avalia-se que a indústria de aviões de médio alcance seja a primeira a se recuperar, mas o mercado permanece retraído.
Curto prazo
Embora não seja possível vislumbrar a saída imediata da crise, alguns indícios apontam a recuperação do setor. Impulsionado pela vacinação mundial, o transporte de passageiros começa a reagir, dando sinais de melhoras a partir do segundo semestre. As viagens domésticas podem crescer em países como Brasil, Rússia e China. O transporte de carga continuará como o segmento de melhor performance em 2021, superando níveis pré-pandemia.
Se a retomada está associada às vacinas, é desejável que haja um alinhamento dos países sobre a aceitação de imunizantes certificados internacionalmente, com a opção de se criar um “passaporte para vacinados”. A mesma necessidade de padronização vale para outras exigências contra a covid-19. É preciso unidade nos protocolos.
No caso específico do Brasil, seria de enorme ajuda se o país organizasse uma campanha de comunicação, no exterior, para promover sua imagem, destacando esforços no combate à pandemia.
Desafios
No Brasil, também há muito a ser feito na regulação do setor. É necessário continuar com medidas de liberalização do mercado e democratizar as passagens aéreas. Políticas de incentivo para desenvolvimento de novas rotas podem ser de valiosa ajuda. O preço dos combustíveis fósseis, que consomem de 15% a 30% das despesas das companhias aéreas, deve ser revisto, e a flexibilização do ICMS pode ser a chave de uma importante mudança no setor.
A gestão de slots também deve ser uniformizada, passando a operar no padrão global. É requisito alinhar o memorando de entendimento entre Associação Mundial Coordenadores (WWACG), IATA e ACI Mundial, para impulsionar o WASG (Worldwide Airport Slot Guidelines) na indústria.
Investimentos em inovação são imprescindíveis para o futuro do transporte aéreo, apostando na automação como forma de melhorar a experiência do passageiro. Um sistema de navegação eficaz também é fundamental para evitar tráfego congestionado.
Por último, mas igualmente muito importante, falamos da sustentabilidade, princípio que já determina os rumos do transporte aéreo: combustíveis eficientes e o compromisso de emissões zero vão determinar o nosso futuro.
O que hoje parece uma turbulência, se mostrará, amanhã, como o vento que abriu novas janelas e possibilidades. Trabalho, adaptação e inovação, geridos com coordenação e compromisso, somados a fé, carinho e perseverança, podem ser os valores da construção de um futuro melhor.
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