Qualidade no recebimento de combustíveis de aviação. Por Alexandre Saraiva

Qualidade no recebimento de combustíveis de aviação. Por Alexandre Saraiva

O produto ao chegar nos aeroportos do Brasil deve ser testado localmente para então ser aceito de forma que a qualidade seja mantida e garantida nesse recebimento.

Chegou o caminhão tanque no aeroporto, é só receber o produto e pronto? Claro que não amigos. As distribuidoras que detêm suas marcas nos aeroportos têm, cada uma delas, um padrão de qualidade mínimo que atende as normas internacionais como por exemplo o JIG – Joint Inspection Group, ou no português livre Grupo de inspeção conjunto e nacionais como a ABNT NBR 15216, dentre outras mais.

Esse padrão internacional mínimo exigem uma série de cuidados com o combustível a ser recebido os quais são verificados com teste realizados com amostras do combustível a ser recebido.

Uma das primeiras atividades a serem realizadas após o caminhão tanque chegar no aeroporto é verificar toda a documentação legal e operacional do veículo. Isso tem que ocorrer porque os caminhões que transportam combustível para aviação só podem transportar esse tipo de combustível, ou seja, ele não pode essa semana transportar JET A e na outra transportar diesel e depois na subsequente voltar a transportar JET A por exemplo. São caminhões cativos e segregados ao JET A.

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Essa garantia é verificada com listas de veículos cativos que atendem aquela unidade operacional (PAA) e se for um veículo novo na rota daquele aeroporto o transportador deve comprovar com laudos, que os veículos foram limpos e estavam adequados para carregamento de JET antes do carregamento, bem como os documentos do veículo devem constar o produto – família a qual ele se destina a carregar, atendendo assim as normas do INMETRO.

Caso ele venha de outra rota também de JET A, pode ser comprovado com a nota fiscal mais recente que aquele veículo carregou, desde que o tempo seja curto. Por exemplo. A nota fiscal apresentada que o último carregamento do veículo foi há seis meses com JET A, não deve ser aceita.

Visto isso, outro ponto importante é verificar se os lacres que veem nos pontos de acesso ao combustível estão íntegros e com sua numeração idêntica a anotada na nota fiscal. Condição que não pode ser esquecida. Caso não esteja batendo a numeração ou mesmo o lacre rompido, as distribuidoras costumam orientar a devolução à base supridora do caminhão, para que o produto seja apurado, reanalisado e após aprovado liberado novamente para venda.

Outro ponto é o nível de seta do produto, para saber se ele está acima ou abaixo desta. Quando está acima, o produto deve ser drenado para um recipiente com medição para apurar quantos litros a mais ele tem. E se estiver abaixo da seta, o produto deve ser completado até chegar ao nível de seta para também saber quanto a menos de produto ele chegou no aeroporto.

Essa análise é ambiente, porém a apuração de perca ou sobra em trânsito é a 20º graus. Os combustíveis no Brasil atendem a resolução ANP Nº 894, DE 18 DE NOVEMBRO DE 2022 – DOU DE 23-11-2022, que indicam duas tabelas de conversão disponíveis no sítio www.anp.gov.br. Vale lembrar que essa resolução revoga a resolução antiga datada de 1970, do antigo CNP – Conselho Nacional do Petróleo hoje chamado de ANP.

Essas tabelas servem justamente para converter uma temperatura ambiente do combustível, ali encontrada com termômetros adequados, a temperaturas a 20º graus. Ou seja, a tabela I permite que ao carregar um produto em uma determinada Base supridora, e que naquele momento o produto medido tinha sua temperatura 23º, ele já sai de lá, com esse volume convertido a 20º graus.

O mesmo ocorre quando esse mesmo produto chega no aeroporto com por exemplo, 30º e converte-se ele a 20º. Assim é possível equalizar as temperaturas e checar com o uso da tabela dois, e densímetros padrões, se de fato houve sobra ou perca de produto durante a viagem.

Feito isso, se faz necessário também drenar o tanque do caminhão para verificar se o produto está em conformidade com relação a impurezas. O JET A assim como a AVGAS não podem conter quaisquer tipos de impurezas sólidas e água, e essa drenagem serve justamente para verificar isso.

Caso seja identificado tais impurezas o caminhão deve ser mantido decantando drenando por mais tempo, até que se encontre uma amostra isenta de impurezas sólidas e água. Vale lembrar que não é por tempo indeterminado. Cada distribuidora tem um critério para o novo tempo de decantação, tendo como base as normas existente citadas como o JIG por exemplo, também uma quantidade a mais limite de drenos, e se chegar nesses limites e o produto não apresentar uma condição adequada ele é devolvido à base supridora.

Feito o ensaio visual e aprovado o produto, o operador de abastecimento deve agora fazer o EDQ – Ensaio de detecção química de água em suspenção, ou seja, resta saber se o produto contém a quantidade ideal de partículas de água nele, e são micro partículas não vistas a olho nu.

As normas nacionais e internacionais regem que os produtos só podem conter no máximo 30ppm – Partículas por milhão de água no combustível e o mercado brasileiro adota três tipos de testes para verificar se esse padrão está sendo atendido.

São eles o SHELL DETECTOR e o CASRI. Esses dois com a mesma metodologia. É uma cápsula com um papel reagente verde que ao passar JET por ele, o mesmo não altera de cor. Caso altere para uma cor azul, o produto contém água acima de 30ppm. Essa cápsula é colocada na ponta de uma seringa apropriada para isso e mergulhada no JET A. O operador suga no mínimo 5 ml e então verifica se capsula mudou de cor, aprovando ou não o produto para uso.

O Terceiro é o HIDROKIT VELCON que nada mais é de que uma ampola hermeticamente fechada (nos lembra as ampolas de exame de sangue) que com ajuda de uma seringa apropriada, é cheia de JET A. Dentro dessa ampola existe um pó hidro sensível branco que também só muda de cor na presença de água. Após agitada por determinado tempo, ela é verificada se a mistura e o pó mudou de cor para um rosa mais escuro indicando assim a presença de água. Caso não mude, o produto está dentro da conformidade.

Caso no teste de EDQ o produto seja reprovado, o caminhão tanque deverá ser posto em decantação por um período maior. Também podem ser coletadas amostras de outros pontos para verificar se a contaminação por água em suspenção é local ou total. Qualquer cliente da aviação pode solicitar testes de EDQ antes dos abastecimentos de suas aeronaves. Em especial em dias chuvosos.

Sobre Alexandre Saraiva

Alexandre Saraiva

Aviation Supply Specialist, administrator, business consultant, supply aviation, speaker

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