A cabine de comando também abriga emoções
Na aviação, há competências que aparecem nas provas, nos simuladores, nos checklists. Mas há outras que ninguém ensina diretamente — e que, silenciosamente, determinam quem continua e quem desiste no meio do caminho. Entre elas, talvez nenhuma seja tão essencial quanto a resiliência.
O início da jornada: um sonho que testa sua força
Você terminou o curso teórico, está acumulando as primeiras horas de voo, ou talvez esteja enviando currículos sem resposta. A realidade é que a primeira fase da carreira aeronáutica pode ser marcada por um silêncio que grita.
Enquanto o coração arde com o desejo de voar, o bolso aperta, os colegas avançam em ritmos diferentes e a ansiedade vira copiloto nos seus dias. O mercado nem sempre está aquecido, a burocracia consome energia e o tempo de espera pode parecer uma eternidade.
A recente suspensão temporária dos exames teóricos da ANAC, por exemplo — consequência direta do Decreto 12.477/2025 —, adiou sonhos, frustrou planejamentos e gerou insegurança entre centenas de aspirantes. E isso mostra algo importante: a aviação é, desde o início, uma escola de paciência.
O que ninguém te contou sobre a aviação
A maioria das pessoas associa a carreira aeronáutica a glamour, uniformes alinhados e vistas deslumbrantes. Mas quem vive essa realidade sabe: por trás das fotos no cockpit há renúncia, incerteza, fadiga, longas horas de estudo e uma luta diária para manter a motivação.
Levei mais de dez anos para juntar dinheiro suficiente para terminar minhas horas de voo e conquistar minha licença de Piloto Comercial. Vi amigos conquistando empregos em outras áreas, estabilizando a vida financeira, enquanto eu ainda tentava decolar — literalmente.
Muitas vezes, me perguntei se valia a pena. Mas resisti. Continuei. E valeu cada sacrifício.
Hoje, olho para trás com orgulho. Não apenas pela carreira construída, mas pela pessoa que me tornei no processo. A resiliência não foi um traço da minha personalidade — foi uma escolha diária.
A cabine de comando também abriga emoções
Mesmo depois de conquistar o primeiro emprego, os desafios continuam. A aviação é instável por natureza. Mudanças de escala, incerteza contratual, vida longe da família, eventos inesperados a bordo e constantes reavaliações técnicas fazem parte do dia a dia.
Imagine um copiloto recém-contratado, voando em uma base distante, enfrentando um pernoite em uma cidade desconhecida. Cansado, sem conhecer ninguém da tripulação e sentindo falta de casa, ele é surpreendido por uma pane elétrica durante o voo. Apesar do nervosismo, ele respira fundo, lembra dos treinamentos e age com precisão.
Essa é a resiliência em ação. Não é ausência de medo. É ação, apesar dele.
É você se superar apesar das adversidades.
O que sustenta a resiliência de um aviador?
- Propósito claro Saber por que você começou te ajuda a lembrar por que continuar. Seu “porquê” é seu combustível silencioso.
- Rede de apoio Conversar com quem já passou por isso é terapêutico. Apoiar-se em colegas, instrutores e familiares é uma forma de dividir o peso emocional.
- Flexibilidade cognitiva A capacidade de se adaptar a mudanças sem perder o foco é um diferencial. Nem sempre o plano original vai funcionar — e tudo bem.
- Autocompaixão e regulação emocional Errar faz parte. Desanimar também. O importante é não transformar essas emoções em verdades absolutas sobre sua capacidade.
- Rotina de autocuidado Dormir bem, comer com qualidade, manter hobbies e momentos de descanso ajudam a sustentar a mente durante os períodos mais difíceis.
A aviação precisa de profissionais resilientes
Não apenas para suportar os desafios pessoais, mas para manter a segurança operacional. Um profissional resiliente é aquele que consegue manter a clareza mesmo em momentos críticos, tomar decisões sob pressão e preservar a harmonia da tripulação mesmo diante do caos.
Além disso, a resiliência também nos ajuda a lidar com as frustrações da profissão: a promoção que não vem, a vaga que foi para outro, o curso que atrasou, a revalidação que deu errado, o corte de orçamento, o ciclo que se encerra.
Conclusão: Turbulência não impede voo
Se você está começando agora e sente que está difícil, quero te dizer: você não está só. Muitos passaram — e ainda passam — por isso. A diferença não está em quem teve sorte, mas em quem persistiu. Resiliência é a habilidade de continuar acreditando, mesmo quando o caminho parece longo demais.
Na aviação, aprendemos a evitar zonas de turbulência. Mas, na vida, é enfrentando essas zonas que descobrimos o quão preparados estamos para voar.
Está difícil manter o emocional em meio aos desafios da carreira?
Se você é piloto, comissário ou está iniciando sua jornada na aviação e sente que a ansiedade, o desânimo ou a frustração têm pesado mais do que o sonho… eu posso te ajudar.
Sou psicóloga e piloto, com mais de 20 anos de experiência no setor aéreo, e ofereço atendimentos psicológicos especialmente voltados para profissionais da aviação.
Vamos conversar? Me mande uma mensagem pelo Linkedin ou WhatsApp (21) 964646434.
Sobre Carine Lage
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Fotos: Grupo de Estudos PP Turma 01/25 ASASBRASIL
Locais: https://aeroclubesc.com.br/ e DTCEA – FL
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