O novo MCA 100-16 Manual de FRASEOLOGIA DE TRÁFEGO AÉREO está sendo atualizado, com previsão para entrar em vigor em dezembro de 2020.
As profissões têm um código linguístico, que é usado para a finalização de um trabalho, este chamado de terminologia; isto quer dizer que cada profissão tem sua própria língua. As terminologias formam a língua de especialidade, são reuniões de termos que definem um idioma específico para cada profissão, que determinam uma comunicação eficaz. Na aviação não seria diferente, a fraseologia aeronáutica existe para estabelecer padrões de comunicação e assim concretiza a finalização de um trabalho. Tais finalizações ocorrem com o entendimento entre o órgão de controle e aeronave, ambos precisam se entender para que haja uma instrução, nesta ordem de ação direta, que parte dos controladores para os pilotos, jamais pode acontecer vícios.
A fraseologia aeronáutica é um procedimento que visa a segurança das operações aéreas, de forma a reduzir o tempo de transmissões das mensagens e propiciar autorizações, portanto, neste artigo iremos ressaltar alguns dos vícios que rompem as regras nas comunicações do espaço aéreo brasileiro, na qual está eivada de vícios terminológicos que advém da cultura operacional.
VÍCIOS FRASEOLÓGICOS
Michaelis (2019) define o vício como, “qualquer costume condenável ou prejudicial”; e vicio de linguagem seria: “erro contra as regras da linguagem; uso impróprio de forma que não seguem as regras”. Os vícios fraseológicos ocorrem quando alguém faz uso incorreto dos termos de forma contínua, prejudicando a si e a outrem. Nas comunicações aeronáuticas, os vícios podem ocasionar danos quanto aos entendimentos entre órgãos de controle e pilotos.
EXEMPLOS:
PROA – HEADING
PT-IFR solicita proa da posição BABEL.
PT-IFR Request Heading BABEL position.
Ambas interferem ao curso correto da terminologia, pois não há coerência nesta solicitação; quando solicitado “proa”, deve haver três dígitos, como proa 340° e não o nome da posição. O MCA 100-16 é bem claro quanto a isso, no entanto a cultura operacional derivou para este vicio. O termo correto será “direto” ou “direct” (DCT).
CROSSING e PASSING
Na terminologia existe o que chamamos de falso cognato, e isto ocorre com os termos crossing e passing. Devemos estar atentos, pois, possuem significados diferentes do nosso Português. O falso cognato está presente neste vício.
Use PASSING para distâncias verticais e CROSSING para sinais eletrônicos, posições em procedimentos e aerovias, posições geográficas e rádio auxílio.
CROSSING
“AFR 7234, contato radar perdido. Serviço radar terminado, reporte cruzando VOR de Porto Alegre.
“AFR 7234, radar contact lost. Radar service terminated, report “crossing” (passando) Porto Alegre VOR.” (MCA 100-16)
PASSING
“FAB 2715, curva imediata à esquerda proa 140, suba para 4000 pés. Tráfego 12 horas, 15 milhas, rumo norte, Lear Jet, passando (cruzando) 2000 pés, subindo para o nível 350.”
“FAB 2715, turn left immediately heading 140, climb to 4000 feet. Traffic 12 o’clock, 15 miles, northbound, Lear Jet, “passing” (cruzando) 2000 feet, climbing to FL 350.”
DIRECT
Em nosso ordenamento, o termo Direct tem o significante de horizontalidade,por este motivo se ouve: “Fly direct Babel Position”. Este termo só deve ser usado para solicitar rumos diretos de posições e auxílios-rádio.
“Subir Direto Para O FL310” pode dar ideia do significado de subir sem restrições, mas a tradução literal para língua inglesa, causa desentendimentos como voar direto ao destino e subir para o nível de voo autorizado.
DÚZIA DE MILHAS e MEIA MIL PÉS
Para distâncias horizontais, o correto é utilizar “DÚZIA”; quando nos referimos a 6NM, a expressão “meia milhas” não é correta, o MCA 100-16 ensina que: “A distância de 6 NM deve ser pronunciada “meia dúzia de milhas” com a finalidade de evitar-se o entendimento de meia milha (0,5NM)”;
A expressão: “confirme se está autorizado a descida para meia dúzia de mil pés”; esta fraseologia não está correta, para distâncias verticais, o correto é “meia mil pés”.
Como signatário da Organização da Aviação Civil Internacional (OACI), o Brasil deve seguir as regras estabelecidas para a comunicação preconizadas na MCA100-16. Este manual “não pretende ser completo”, no entanto, devemos usar a terminologia de acordo com a situação.
Fazer o uso correto das terminologias na fraseologia, mitiga problemas latentes e aumenta a segurança operacional.
O único remédio para combater o vício é a instrução continuada, a decisão da deriva linguística na fraseologia aeronáutica é nossa, já as consequências são de todos os usuários, portanto, devemos usar a fraseologia padrão.
Franciele Costa
Aluna do Curso de Aviação Civil UAM – Universidade Anhembi Morumbi
São Paulo – SP
Franciele.costa@outlook.com.br
REFERÊNCIAS
ANAC. Resolução Nº 25. Dispõe sobre o processo administrativo para a apuração de infrações e aplicação de penalidades, no âmbito da competência da Agência Nacional de Aviação Civil, São Paulo, SP. 25.ABR.2008. Disponível em: <http://www.anac.gov.br/assuntos/legislacao/legislacao-1/resolucoes/resolucoes-2008/resolucao-no-025-de-25-04-2008-1>
Acesso em 22.FEV.2019
DECEA. Manual de Fraseologia de Tráfego aéreo. São Paulo, SP. 2018
Disponível em: <https://publicacoes.decea.gov.br/?i=publicacao&id=4916>
Acesso em: 22.FEV.2019
MICHAELIS. Dicionário brasileiro online da língua portuguesa, 22.FEV.2017
Disponível em: <https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/v%C3%ADcio/>
Acesso em 22.FEV.2019
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Francisco Rezende
06/07/2020, 15:25Excelente artigo sobre fraseologia.
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