O treinamento incluiu içamentos de pessoal do convés do navio com o guincho do helicóptero simulando o salvamento de vítima.
Foram dez dias de aprendizado, treinamento e manutenção operacional. Garra, força, empenho, foco, aumento da consciência situacional e um inestimável ganho operacional para os 250 militares que participaram do evento, entre esquadrões aéreos de busca e salvamento, equipe de coordenação em terra e a Marinha do Brasil.
Juntos, o Comando de Preparo (COMPREP) e o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA) realizaram o Exercício Técnico (EXTEC) SAR e o Exercício Operacional de Busca e Salvamento – SAREX II, entre os dias 13 e 23 de julho, na Ala 12 – Base Aérea de Santa Cruz, no Rio de Janeiro.
O resultado deste grande treinamento operacional trouxe saldo positivo para o COMPREP, para o Sistema de Busca e Salvamento Brasileiro (SISSAR) e para o DECEA. O planejamento inicial previa 53 missões no mar (cerca de 190 horas de voo) e 18 missões na terra (aproximadamente 57 horas de voo). Ao final do exercício foram realizadas 42 missões no mar (mais de 155 horas de voo) e 11 na terra (por volta de 36 horas de voo), com 30 lançamentos de botes, dos quais 16 simulando situações reais.
As áreas designadas para as buscas no mar ficavam entre o litoral e as bacias petrolíferas de Campos e de Santos, onde acontecem movimentos de helicópteros offshore. Durante o exercício, mais de 500 helicópteros sobrevoaram ou cruzaram a área, sendo que trinta foram efetivamente coordenados para prevenir conflitos com as operações de busca simulada.
A coordenação do controle de tráfego aéreo aconteceu em conjunto entre as equipes responsáveis pelo planejamento de buscas, o Controle de Aproximação (APP) São Paulo, o Centro de Controle de Área (ACC) Curitiba e o Centro de Gerenciamento da Navegação Aérea (CGNA). Com isto obteve-se o máximo de ganho operacional com o uso flexível do espaço aéreo.
Foi o primeiro grande exercício que aconteceu após o início da pandemia do covid-19, doença que mudou hábitos, estruturas e procedimentos. Todas as ações realizadas levaram em consideração o aparato de segurança necessário para resguardar cada militar que estava dedicado nesta missão de grande valor para a sociedade brasileira.
A importância de reunir dois grandes comandos se justifica pela natureza do serviço de busca e salvamento prestado à população, que envolve meios de coordenação e esforço aéreo. O COMPREP é responsável pela formação e treinamento operacional das equipes que compõem os elos de execução SAR (que vem do inglês, Search and Rescue), que são os esquadrões aéreos.
O DECEA, responsável pelo SISSAR, é quem define os parâmetros de formação, habilitação e aprimoramento profissional do pessoal que compõe as equipes que atuam nos Centros de Coordenação de Salvamento Aeronáutico (ARCC) e no Centro Brasileiro de Controle de Missão COSPAS-SARSAT (BRMCC).
Treinamento simulado
Durante o exercício foram criados dois subcentros de coordenação de salvamento: o primeiro um Centro de Coordenação de Salvamento Aeronáutico (ARSC), para buscas sobre a terra, e o outro, um Centro de Coordenação e Salvamento Conjunto (JRCC), com a Marinha do Brasil, para buscas sobre o mar.
Uma estrutura nos mesmos moldes é acionada, temporariamente, para uma missão de busca e salvamento real. A equipe de coordenação SAR é composta por um oficial, que é o coordenador da busca, um controlador de voo, que é o assistente do coordenador, e um graduado em comunicações, para operação rádio e demais sistemas de comunicação.
Além do treinamento das coordenações ARSC e JRCC, os tripulantes, pilotos e observadores das aeronaves também participaram do adestramento. Funciona assim: são montados cenários com simulações de acidentes aeronáuticos ou com embarcações.
Foram elaborados eventos hipotéticos de navios ou botes à deriva ou que colidiram um com o outro, por exemplo. Alguns botes foram lançados da aeronave C-130 Hercules, do 1º Esquadrão do Primeiro Grupo de Transporte (1º/1º GT), e outros, do SC-105 Amazonas SAR, do 2º Esquadrão do Décimo Grupo de Aviação (2°/10° GAV).
Ainda foram utilizados objetos aleatórios perdidos no mar e localizados pelos observadores nas missões de busca nos primeiros dias da operação. Estes “alvos” passaram a ser aproveitados para, com os devidos cálculos de deriva no mar causados pelas correntes marinhas e ventos reinantes, estabelecer novos padrões de busca para localizar novamente horas ou dias após o primeiro avistamento.
O coordenador de um dos subcentros, Primeiro Tenente Aviador Pedro Augusto Carvalho de Andrade, contou que a sua função foi receber todas as informações a respeito do objeto a ser buscado. Em seguida, a elaboração de um planejamento a partir dos dados recebidos e a orientação de emprego dos meios disponíveis para a localização e resgate do objeto de busca.
Entre as averiguações são analisadas as condições meteorológicas e outros fatores que possam afetar o planejamento de missão. “O plano é traçado com a designação do órgão de execução que vai cumprir o que foi delineado”, explicou.
O Tenente Andrade é piloto do 7º/8º GAV (Sétimo Esquadrão do Oitavo Grupo de Aviação), Esquadrão Hárpia, sediado na ALA 8, em Manaus. Ele faz faz parte do quadro de tripulantes externo e participa da escala do Centro de Coordenação de Salvamento (RCC) Amazônico, no Quarto Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (CINDACTA IV), também em Manaus.
“Participar de um exercício como esse é uma boa oportunidade porque conseguimos levar para a área de coordenação um pouco da nossa vivência. No Esquadrão passo os ensinamentos que tenho na coordenação de Busca e Salvamento, assim como quando estou no RCC, onde passo meu conhecimento como piloto”, pontuou.
Todos os passos do Tenente Andrade e de todos os demais militares que participaram do exercício foram avaliados: a coordenação, os meios empregados e a tripulação, ou seja, tanto o treinamento dos órgãos de coordenação quanto dos órgãos de execução.
Avaliação e manutenção operacional
Para o coordenador SAR de outra equipe, Major Aviador Guilherme Toscano Barreto Ferreira Lira, chefe da Subdivisão de Busca e Salvamento no Terceiro Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (CINDACTA III), esta avaliação é um modo de certificar se todos que têm o conhecimento teórico estão realizando a prática com perfeição.
“Além da avaliação das coordenações, da qualidade do material que é produzido pelas equipes para verificar se realmente há efetividade na localização dos objetos de busca, todos passam por uma avaliação teórica e prática no software utilizado. Também são feitas provas durante todo o exercício”, revelou.
O Major Toscano também descreveu o treinamento como um momento em que é possível conhecer os meios mais avançados utilizados pelas unidades de busca, as implementações doutrinárias e tecnológicas da aviação de patrulha e de busca e salvamento. “Assim podemos agregar estas novidades técnicas e aprimorar ainda mais o método utilizado para fazer este trabalho”.
Na opinião do militar, esta proximidade com as unidades aéreas e com a Marinha torna possível um intercâmbio que não faz parte da rotina de nenhuma destas organizações, mas a interoperabilidade é revertida em ganho para todos os envolvidos.
Em uníssono, o supervisor do Salvamar Brasil, órgão que supervisiona todos os eventos SAR de salvamares regionais da Marinha, Suboficial Ari Aureliano Junior, retratou sua participação no exercício como uma troca de conhecimentos.
“Ajudamos na previsão meteorológica através dos nossos boletins de previsão meteorológica especial, fornecidos pela Diretoria de Hidrografia e Navegação, e fazemos a previsão de correntes e de temperatura do mar no software SAR Master”, disse.
O trabalho do Centro Integrado de Meteorologia Aeronáutica (CIMAER), responsável pelo serviço de meteorologia aeronáutica no SISCEAB, também foi fundamental para os dez dias de exercício. O CIMAER preparou previsões diárias específicas para a área do treinamento e que foram usadas nos planejamentos.
Um trabalho que reuniu a expertise da Aeronáutica e da Marinha. O Suboficial Ari Junior salientou que tem amigos na FAB desde 2014, quando começou a participar deste tipo de exercício. “Temos acordos operacionais entre Marinha e a FAB que foram firmados a partir destas operações, ideias surgem e depois são colocadas em prática”, detalhou.
Execução e prática
Além da coordenação conjunta, a Marinha do Brasil participou com um navio de patrulha oceânica. No primeiro dia, este navio lançou o bote que serviu de alvo para as buscas, além de apoio ao treinamento do içamento do convés pelo helicóptero H-36 Caracal, do Esquadrão Puma (3º/8º GAV). O treinamento incluiu içamentos de pessoal do convés do navio com o guincho do helicóptero simulando o salvamento de vítima.
“Estamos adquirindo conhecimento para futuras operações, para que seja diminuído o tempo de resposta na busca SAR. Os militares da FAB trabalham de forma muito profissional, sempre buscando melhoramentos com as lições aprendidas. O que deu errado corrigem, o que deu certo repetem, isto é muito importante”, realçou o SO Ari Junior.
O estreitamento de laços entre os órgãos de coordenação SAR é fundamental para as unidades que realizam missões de busca e salvamento. O Coordenador da Operação SAREX II e Oficial de Comunicações e Eletrônica do EXTEC-SAR, Tenente-Coronel Aviador Felipe Koeller Rodrigues Vieira, explica que o exercício foi planejado muito próximo de uma operação real. “Quando for necessário, o sistema de busca e salvamento estará pronto para atender a sociedade”.
A interação também foi um dos pontos positivos apontados pelo Diretor do Exercício Técnico (EXTEC) SAR e Comandante da ALA 12, Coronel Aviador Marcelo da Costa Antunes. “O exercício é de extrema importância para a Força Aérea Brasileira e para a ALA 12, o maior complexo aerotático da FAB, onde se tem a oportunidade de fazer um treinamento operacional com interação entre quem planeja (Salvaero, Salvamar) e quem executa a missão”, esclareceu o Coronel Antunes.
Para o Diretor do EXTEC SAR: quanto mais similar for a operação da realidade mais se potencializa o ganho operacional das unidades envolvidas. Independente da função que será executada, a coordenação, os voos de observação ou o resgate propriamente dito, cada militar envolvido possui uma marca que identifica seu uniforme com um símbolo que rege a busca e salvamento: “para que outros possam viver”.
É a Força Aérea Brasileira colocando em prática sua missão de Controlar, Defender e Integrar 22 milhões de km², sob responsabilidade do País, e, de forma literal, sendo as: ´Asas que protegem o País´.
Assessoria de Comunicação Social
Reportagem: Gisele Bastos
Fotos: Luiz Eduardo Perez
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