Aeronaves remotamente pilotadas aumentam em quantidade e em aplicações no Brasil. Testes que envolvem entregas de mercadoria continuam
De acordo com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o Brasil passou, de janeiro a setembro deste ano, de 79.858 para 87.378 drones. Desse total atual, 50.626 são para recreação e 36.752 estão registrados como equipamentos de uso profissional. Vistos por muitos especialistas como tendência na logística e em outros segmentos como o agrícola, essas aeronaves pilotadas remotamente têm potencial, também, para melhorar a mobilidade e a qualidade do ar, ao evitar a circulação de diversos veículos e alguns tipos de máquina.
Muitos dos drones registrados como equipamento de uso profissional operam, neste momento, em testes. Isso porque há todo um rito aeronáutico a ser cumprido para que se possa avaliar a segurança em cada voo, além do desenvolvimento da operação pelas empresas para que as aeronaves obtenham as autorizações necessárias para operar comercialmente. “Hoje, ainda estamos restritos a sobrevoar áreas com baixa densidade populacional”, diz Samuel Salomão, fundador e chief product officer (CPO) da Speedbird, empresa brasileira que fabrica e opera drones.
A Anac define, para todas as classes de aeronave remotamente pilotadas (RPA), uma distância mínima obrigatória de 30 metros horizontais das pessoas não anuentes, termo usado para indivíduos que não concordaram previamente com a captação de sua imagem. “Não é o caso, por exemplo, de shows com filmagem por drones e que as pessoas autorizam no ato da compra dos ingressos”, explica Roberta Fagundes Leal Andreoli, advogada especializada em aviação e sócia do Fenelon Advogados.
Salomão explica que, atualmente, a Speedbird possui dois modelos de drone que já possuem o Certificado de Autorização de Voo Experimental (Cave) e que outros seis estão em processo para obter esse mesmo certificado. “Foi com esses equipamentos que já têm o Cave, que são do modelo DLV1, que fizemos os testes com o iFood em Campinas, divulgado no ano passado. A encomenda saía do Shopping Iguatemi em direção a um ‘droneport’, localizado nos arredores”, explica. Hoje, essas aeronaves com o Cave aguardam o Certificado de Aeronavegabilidade de Veículo Remotamente Certificado (Caer), o que permite que saiam da fase de testes, mas ainda estão proibidos de sobrevoar pessoas. “Temos trabalhado muito para obter o certificado, que mostra, mais uma vez, toda a seriedade do processo. Acreditamos que, até o final do ano, ele saia”, afirma Manoel Coelho, fundador e CEO da empresa.
Esclareça suas dúvidas sobre drones
Como todo assunto novo, ainda há muito desconhecimento sobre o que essas aeronaves não pilotadas podem ou não fazer no espaço aéreo. Confira
Até o momento, os drones não podem sobrevoar cidades para o transporte de mercadorias, de maneira geral, pela obrigatoriedade de guardar a distância mínima de 30 metros laterais de áreas com pessoas. Mas, respeitando essa exigência, as empresas têm encontrado outras maneiras de operar. “No caso do iFood, estão sendo feitos testes, também, em outras regiões, como a do Nordeste do País. Identificamos mais de 200 rotas em que faz sentido que o drone seja usado”, afirma Manoel Coelho, fundador e CEO da Speedbird Aero. Nesse mesmo exemplo, vale lembrar que, nos testes feitos em Campinas (SP), os drones eram usados na primeira parte do trajeto e, após o pouso, o pedido seguia, via entregadores, por bicicleta ou motocicleta até o cliente.
Outras companhias que também testam a tecnologia com a Speedbird Aero são o Grupo Hermes Pardini, para transporte de material biológico, Mercedes-Benz, que trabalha em parceria no desenvolvimento e na homologação de um veículo para pousos e decolagens dos drones, Ambev, Claro, entre outras. “São muitas oportunidades e segmentos em que o uso das aeronaves trazem mais agilidade. Vejo, no futuro, os drones fazendo parte do dia a dia das pessoas, que vão receber suas encomendas em áreas comuns, não na janela de suas casas, como alguns imaginam”, diz Samuel Salomão, fundador e CPO da empresa.
Agro é tec
Na agricultura, os drones já são realidade. “Eles fazem pulverização nas lavouras, atuam em infestações em plantações de cana-de-açúcar, podem ser usados na limpeza de canais de arroz e na irrigação de áreas de difícil acesso”, explica Daniel Estima Bandeira, diretor financeiro da SkyDrones, empresa brasileira que começou nesse mercado em 2008 e que atuou em segmentos como o de energia elétrica, inspecionando redes de alta tensão, entre outros, e, hoje, tem, no segmento agrícola, a maior parte dos seus clientes. “Sempre comparo o drone com um caminhão chassi: ele é uma estrutura-base que pode ser usada com diversas outras aplicações. É um equipamento muito versátil”, diz Bandeira.
Para a pulverização, explica ele, a grande vantagem é a agilidade: enquanto uma pessoa com os chamados pulverizadores costais pode levar até um dia para cobrir 1 hectare de plantação, o drone faz o mesmo serviço em oito minutos. “Já no caso de arrozais e áreas com cana, entrar com um trator acaba danificando a plantação, o que é evitado com as aeronaves”, diz.
Fonte: https://mobilidade.estadao.com.br/inovacao/drones-o-ceu-e-a-seguranca-sao-o-limite/
Sobre Daniela Saragiotto
Deixe uma mensagem
Your email address will not be published. Required fields are marked with *