Evolução do preço do querosene de aviação. Por Adalberto Febeliano/AIRCONNECTED

Evolução do preço do querosene de aviação. Por Adalberto Febeliano/AIRCONNECTED

Essas elevações súbitas não são novidade para a Indústria do Transporte Aéreo

No mundo atual somos bombardeados o dia todo por notícias pelo rádio, pela televisão ou pela internet, e poucas vezes conseguimos reter seu real significado por mais do que alguns minutos.  Isso nos leva a, muitas vezes, perder a noção da evolução de alguns assuntos, ficando só registrada a última notícia lembrada.

É certamente o que acontece com a evolução recente do preço dos combustíveis, e em particular do querosene de aviação.  Depois de ouvirmos que o preço do petróleo havia despencado com a pandemia, passamos a ouvir que ele disparou com a guerra da Ucrânia e que, mais recentemente, tem diminuído com a redução de impostos.

Mas, afinal, qual é o patamar atual dos preços em relação ao passado?

O gráfico a seguir nos mostra o preço médio do querosene de aviação praticado nas refinarias, em reais por litro, segundo a ANP – Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, entre novembro de 2018 e agosto de 2022:

Fonte: www.anp.gov.br

Salta à vista, em primeiro lugar, a enorme disparidade entre o maior preço da série, em junho de 2022, e o menor preço, em abril de 2020: 4,7 vezes maior, algo como uma elevação de 370% em 2 anos.

É também impressionante a diferença entre o preço anterior à pandemia, na faixa de R$2,00 por litro, para os valores pagos atualmente, na casa dos R$5,00 por litro, um aumento de 150%.  Se lembrarmos que a inflação entre janeiro de 2020 e julho de 2022, medida pelo IPCA, foi de pouco mais de 20%, fica claro o impacto que teve a retomada das atividades econômicas sobre os preços dos derivados de petróleo.

Essas elevações súbitas não são novidade para a Indústria do Transporte Aéreo.  O petróleo ainda é a commodity mais importante do mundo, e como sua produção acontece em áreas politicamente instáveis ou sujeitas a tensões políticas frequentes já vivemos situações parecidas com a Guerra Irã-Iraque, com a Guerra do Golfo, com a crise financeira de 2008 e com as revoluções no Egito e na Líbia, mas esta é a primeira vez em que o choque de preços vem em seguida a uma crise setorial tão aguda como a que foi causada pela pandemia do coronavírus.

A Indústria, como no passado, mostra sua resiliência e consegue manter a retomada do tráfego, mesmo que com tarifas mais elevadas, mas essa retomada poderia ser muito mais vigorosa se a base de custos fosse menor.

Na medida em que mais países foram adotando a desregulamentação dos serviços, com a liberação de preços de passagens e de acesso a mercados, as linhas aéreas aprenderam que tarifas mais baixas atraem mais passageiros, que enchem mais os aviões e que resultam em melhores resultados financeiros.

Se, no momento, as tarifas estão mais altas, isso é uma resposta natural e temporária à alta de custos, a ser revertida na medida em que as questões políticas atuais forem sendo equacionadas.

Energia é o principal fator de custo para as empresas aéreas, e isso não deve mudar nos próximos 10 a 15 anos – mas esse assunto fica para uma próxima oportunidade.

As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Portal AirConnected

Adalberto Febeliano

Adalberto Febeliano

Adalberto Febeliano é engenheiro, pós graduado em administração pela FGV-SP e Mestre em Economia do Transporte Aéreo pelo ITA. Professor de Economia do Transporte Aéreo e de Planejamento do Transporte Aéreo no curso de aviação civil da Universidade Anhembi Morumbi por 7 anos, tem mais de 25 anos de experiência em aviação e transporte aéreo, tendo trabalhado em empresas como Mesbla Aviação, Líder Táxi Aéreo e GE Celma. Foi Diretor Executivo da ABAG – Associação Brasileira de Aviação Geral, Diretor de Relações Institucionais da Azul Linhas Aéreas e atualmente é Vice-Presidente de Operações Aéreas da MODERN Logistics, da qual é um dos sócios fundadores. É Diretor Adjunto da Divisão de Logísitca e Transportes do Departamento de Infraestrutura da FIESP e Conselheiro do Conselho Superior da Indústria da Construção Civil da mesma entidade.
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