Avaliação por comportamento na Aviação. Por Cmt. Stolt

Avaliação por comportamento na Aviação. Por Cmt. Stolt

Um dos primeiros estudos sobre avaliação por comportamento na aviação teve início na Universidade do Texas no final dos anos 80, sendo depois integrado com a NASA (NASA/UT Project).

Avaliar e treinar profissionais da aviação sempre foi um desafio constante, utilizando-se ao longo do tempo diferentes metodologias, especialmente no que se refere ao treinamento e avaliação de pilotos. Como estes precisam desenvolver e demonstrar competências e comportamentos específicos para realizar suas atividades profissionais com segurança e eficiência, criar e aplicar bons métodos de avaliação é fator crítico de sucesso para a indústria de treinamento da aviação.

Um dos primeiros estudos sobre avaliação por comportamento na aviação teve início na Universidade do Texas no final dos anos 80, sendo depois integrado com a NASA (NASA/UT Project).  Os objetivos iniciais eram avaliar a efetividade do treinamento em CRM e definir os objetivos do treinamento em CRM, pois como esses treinamentos essencialmente trabalhavam habilidades não técnicas, era preciso criar formas de avaliar o desempenho de pilotos nessas habilidades.

À medida que as empresas aéreas passaram a usar os indicadores de comportamento nos seus voos e treinamentos em simulador, isso gerou uma grande massa de dados, os quais serviram de base para o desenvolvimento de novas metodologias de avaliação e treinamento de pilotos.

Em 1996, a pedido da JAA (autoridade de aviação da União Europeia), foi formado um comitê para identificar e desenvolver uma metodologia para avaliar as habilidades de CRM dos pilotos. Surgiu então o JARTEL Project, envolvendo algumas universidades e empresas aéreas da Europa. Como resultado, identificaram habilidades importantes que deveriam ser utilizadas pelos pilotos, as quais foram chamadas de habilidades não técnicas (NOTECHS). Estas habilidades foram categorizadas em 4 grupos; 1) cooperação, 2) liderança e gestão, 3) consciência situacional, e 4) tomada de decisão), sendo que cada grupo tem subitens de avaliação, totalizando 15 elementos de avaliação.

Sendo assim, é possível dizer que tanto os UT Markers como as NOTECHS são metodologias para avaliação de comportamento e performance de pilotos. Foram criadas em momentos e locais diferentes, tendo alguns critérios de avaliação em comum e outros complementares.

Portanto, conhecer um pouco sobre indicadores de comportamento utilizados no treinamento de pilotos é fundamental para quem trabalha na área.  Seguem algumas perguntas e respostas que ajudam a entender mais sobre o assunto.

1) O que são indicadores de comportamento?

– São comportamentos não técnicos, observáveis, que contribuem para uma performance melhor dentro do ambiente de trabalho.

– Comportamentos observáveis de equipes ou indivíduos

– Geralmente estão estruturados em categorias, que são subdivididas em subcategorias. Os nomes de cada categoria ou subcategoria varia de acordo com a abordagem utilizada.

2) De onde vem os indicadores de comportamento?

– Da análise de dados de diferentes fontes que indicam comportamentos que produzem bons e maus resultados, tais como: investigação de acidentes, análises de reportes, estudos em simulador e voos reais, análise das atividades do trabalho, entrevistas, etc.

3) Quais são as características de um bom indicador de comportamento?

– ele descreve um comportamento específico e observável, não uma característica de personalidade

– demonstra uma relação de causa em relação a um desempenho esperado

– utiliza uma linguagem específica de acordo com o ambiente operacional

– utiliza uma fraseologia simples e descreve um conceito claro

4) Quais as principais utilizações dos indicadores de performance?

– permitir a avaliação da performance em treinamentos, a avaliação do treinamento, o gerenciamento da segurança

– salientar exemplos positivos de performance

– permitir um vocabulário comum para área de treinamento, briefings, debriefings, pesquisas na área de Fatores Humanos e na gestão da segurança

– permitir a criação de bases de dados e a priorização de treinamentos

– permitir o feedback de desempenho para indivíduos, equipes, organizações

– como são caros para desenvolver são utilizados em áreas em que o treinamento dos indivíduos é critico para os resultados em performance e segurança (ex: aviação, usinas nucleares, áreas militares, e algumas áreas da medicina)

5) Quais as características de um bom sistema de indicadores de comportamento?

– Validade, em relação aos resultados de desempenho

– Confiabilidade, em produzir resultados consistentes

– Sensibilidade, para medir variação dos níveis de performance

– Transparência, para demonstrar ao avaliado os critérios de avaliação

– Usabilidade, para permitir um treinamento e entendimento fáceis.  Pouca sobreposição dos componentes de avaliação

6) Quais as principais limitações dos sistemas de indicadores de desempenho?

– em situações de pouca ocorrência de alguns comportamentos, é difícil desenvolver bons indicadores (ex: indicadores para medir resolução de conflitos)

– em situações em que a capacidade do observador fica restrita devido a distrações, excesso de carga de trabalho, situações muito complexas, em equipes muito grandes.

– os avaliadores precisam de um treinamento extenso e de calibrações periódicas

– a implementação de tal sistema demanda apoio da alta gestão e varia de acordo com o nível de desenvolvimento profissional, com a maturidade da organização, e com o nível de cultura profissional.

7) Quais os principais pré-requisitos para ser um instrutor em cursos de indicadores de comportamento?

– Comprometimento com os princípios de fatores humanos

– Ótimos conhecimentos na área de Fatores Humanos e CRM

– Bons conhecimentos no uso e limitações de sistemas de avaliação de performance

Percebe-se que a utilização de indicadores de comportamento para avaliar e treinar pilotos pode ser muito útil, mas sua correta aplicação demanda bons conhecimentos e experiência com a área de estudo. Com o conhecimento obtido durante algumas décadas nas áreas de avaliação de desempenho e de comportamento de pilotos, bem como com outras fontes da dados da indústria da aviação, foi possível desenvolver diferentes metodologias de avaliação e treinamento. O modelo LOSA/TEM, o AQP (Advanced Qualification Program), e o treinamento baseado em evidência (EBT), são exemplos desse desenvolvimento.

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